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A expansão das redes de restaurantes no Brasil produz um impacto imensamente positivo na vida nacional, que vai bem além do fato em si. Um novo restaurante, em um ponto qualquer de nossas cidades, produz efeitos que extrapolam, por exemplo, ao da abertura de uma nova concessionária ou uma loja de calçados.

É claro que, no caso da concessionária ou sapataria, as cidades e cidadãos se beneficiam com a abertura de mais um ponto comercial, tanto na melhoria do suprimento de bens e serviços quanto na maior geração de impostos e empregos.

Ninguém vai a uma casa de ferragem ou de confecções para congraçar com amigos e vizinhos. O ponto máximo de recreação de alguém que adentre uma revenda de carros é contemplar os modelos recém-lançados. O mesmo vale para uma loja de sapatos. São estabelecimentos puramente comerciais, sim. Mas, quando suas portas estão abertas às ruas, colorem a cidades com o movimento nas calçadas.

Bares e restaurantes são muito mais do que pontos comerciais. Formam a simbiose do público com o privado.

Ou seja: o que prevalece, no salão de um bar ou restaurante, é uma atmosfera bem doméstica, em que as pessoas compartilham os relacionamentos, sendo atendidas por diligentes garçons. E, contíguo a esse salão marcado pela amistosa descontração, há a parte interna do estabelecimento, que chamaríamos de a esfera privada do bar ou restaurante, situada atrás do balcão, onde estão a gerência, o escritório, o almoxarifado etc. O cientista social americano Christopher Lash (1932/1994) define bares e restaurantes como o “terceiro ambiente”, o amálgama do público com o privado. Pois a multiplicação exponencial dos estabelecimentos da alimentação fora do lar - que está em curso no Brasil - significa o simultâneo avanço dos negócios privados, dos relacionamentos comuns entre as pessoas e da pacificação do ambiente urbano. Mais e mais bares, cafés e restaurantes em redes são triplamente ativadores do empreendedorismo, da vida comunitária e da segurança pública.

Quando às seis da tarde fecham-se os demais estabelecimentos comerciais, os da alimentação fora do lar continuam irradiando movimento e luz, alguns se estendendo noite adentro, vizinho ao hospital, à escola ou ao cursinho, à mercearia e ao supermercado, a uma drogaria ou a um posto de gasolina 24 horas.

Nas últimas seis décadas, as cidades brasileiras ingressaram em uma era de anemia, ao separarem as áreas urbanas em redutos exclusivos de moradias, isolando-as das atividades comerciais.

Com isso, o país tornou-se menos comunitário e mais inseguro. Agora, ampliam-se as vozes que clamam por cidades vivas.

Neste ano, em que a maioria dos municípios com mais de 20 mil habitantes tem de fazer a revisão de seus planos diretores, é esta a chave que propiciará a virada para uma nação de pessoas que convivam mais rotineiramente entre si. Nos planos diretores, definimos qual caminho traçamos para o futuro imediato das nossas cidades, onde hoje vivem 85% dos brasileiros. Que o comércio e os serviços estejam próximos das residências. E que, nesta benfazeja maré da expansão das redes de bares e restaurantes, nossas cidades saibam maximizar a extraordinária contribuição que os estabelecimentos da alimentação fora do lar propiciam à realização do sonho da cidade viva e solidária.

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